Marcas têm novo plano de expansão no país após impulso recebido com bons resultados de surfistas como Gabriel Medina
Gabriela Murno (gmurno@brasileconomico.com.br)
Rio – Depois de perder um pouco de seu brilho, o mercado da moda surfe retoma o fôlego no Brasil, remando contra a maré do cenário mundial. Marcas como Mormaii e Rip Curl traçam uma nova rota de expansão no país, principalmente após o impulso dado pelas recentes vitórias de brasileiros nos principais eventos do esporte, entre eles o jovem surfista Gabriel Medina.
Um estudo da JWTIntelligence — braço de inteligência da agência de publicidade J. Walter Thompson — que aponta tendências de consumo, cita o que chama de “renascimento do surfe” e diz que as marcas devem ficar atentas.
Patrocinadora de Gabriel Medina, a Rip Curl planeja a expansão das suas lojas licenciadas no país. Atualmente, são sete unidades, sendo três outlets próprios e quatro unidades licenciadas.
A marca continua a ser vendida em lojas multimarcas, talvez aí, explica o coordenador de Marketing da Rip Curl no Brasil, Fernando Gonzalez, a crise econômica tenha um impacto maior.
“Existe um cenário macroeconômico, em que vemos dificuldades. Claro, há um impacto no nosso mercado, já que 90% do nosso negócio são dirigidos e distribuídos por lojas multimarcas do comércio varejista. Mas o restante do mercado vive um momento de contraste com essa situação. Há um novo destaque desse esporte no Brasil, impulsionado pelo título do Medina”, explica ele.
Já a Mormaii planeja abrir mais 15 lojas até o final do ano e também trazer novos produtos para a marca, que aposta no modelo de franquias. Hoje, são 33 unidades franqueadas em diversos estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
“O mercado do nosso segmento deve crescer significativamente (…) Sem dúvida, os resultados expressivos dos brasileiros nos circuitos mundiais deram uma turbinada muito bem-vinda, num momento em que toda a economia do Brasil sofre uma retração severa”, ressalta o fundador da Mormaii, Marco Aurélio Raymundo, o Morongo.
Coordenador da pós-graduação em Negócios e Varejo de Moda da Universidade Anhembi Morumbi, Otávio Lima vê o surfe como inspiração para a moda em geral, não apenas para as marcas que produzem artigos para o setor chamado de surfwear ou para a prática do esporte.
“Outras marcas, como as de luxo, usam alguns elementos relacionados ao surfe em suas estampas e coleções. É o renascimento do esporte. A Chanel, por exemplo, criou uma campanha com a Gisele Bündchen para o Chanel nº 5, que tinha o surfe como temática (…) O movimento foi sendo construído há uns dois anos, mas se antecipou. Esperávamos ver no final do verão que vem, mas vamos ter um próximo verão puramente surfista”, diz ele.
Lima acrescenta que as características do Brasil, com uma imensa costa e um verão marcante, também ajudam que a moda surfe reviva por aqui.
O auge da moda surfe nas décadas de 80 e 90
Sucesso das décadas de 80 e 90, a chamada surfwear amargou momentos difíceis a partir dos anos 2000. Segundo o consultor de Gestão no Varejo, Rubens Panelli Jr., o lifestyle sofreu uma mudança radical, mas também muito comum no mundo da moda.
Ele explica que algumas marcas que não tinham como objetivo vender só produtos profissionais do surfe, como Redley e Handbook, optaram por migrar para um estilo mais casual. “Foi uma mudança comportamental que teve reflexos no mercado”, diz ele.
“Grandes como Billabong e Quiksilver têm tanto produtos para práticas de surfe, como de moda, o que as ajudou a sobreviver, apesar das dificuldades. Já outras marcas mais sofisticadas e de nicho, como a Osklen, além de não serem tão grandes assim, têm um público cativo”, completa Panelli Jr.
O sócio-diretor da Sonne Branding, Maximiliano Tozzini Bavaresco, pondera, no entanto, que apesar da retomada do mercado, dificilmente as pessoas mudaram seu comportamento para usar um tipo de roupa, apenas por conta da visibilidade dada a um atleta brasileiro. “Quem conhecia o Medina já usava as roupas com o estilo surfwear. De repente, o que pode ocorrer é a troca de prestígio na decisão de compra. Ou seja, pode haver a migração de uma marca para outra”, declara.
Mercado mundial ainda enfrenta dificuldades
Fora do Brasil, o cenário da surfwear segue ainda mais desafiador. No mês passado, a Consac, investidora da Quiksilver, reiterou o pedido para que a rede de vestuário seja colocada à venda, após ter perdido quase três quartos de seu valor de mercado nos últimos 12 meses.
Ryan Drexler, presidente da Consac, que possui mais de 3,5 milhões de ações da australiana, enviou uma carta à Quiksilver dizendo que a empresa deveria encontrar um comprador “para evitar a redução de valor para o acionista antes que as condições da marca fiquem ainda piores”.
Sua conterrânea Billabong também não passa por um bom momento. A fabricante viu seu valor de mercado cair brutalmente desde seu pico em 2007, quando seu valor de mercado chegou a US$ 3,2 bilhões. Mas, a iniciativa de expansão global e as aquisições foram engolidas pela crise financeira mundial, em 2008, que mudou totalmente o cenário do mercado. Em 2013, depois de demitir dois CEOS e suas ações acumularem perdas de 99% de seu valor, a Billabong aceitou um plano de refinanciamento de fundos de private equity americanos, após ver sua dívida crescer devido a investimentos feitos para ampliar a rede de lojas.
A marca, fundada pelo surfista Gordon Merchant há 42 anos, está cortando custos e trocando fornecedores chineses por outros mais baratos do Vietnã, Bangladesh e Índia, e fechou ou vendeu 34% de seus pontos de venda no mundo.
Procuradas pelo Brasil Econômico , Billabong e Quiksilver não atenderam às solicitações de entrevista até o fechamento da edição. Com Bloomberg
Samsung patrocina campeonato
Tradicionalmente patrocinado por marcas relacionadas ao surfe, os grandes eventos desse esporte começam a abrir espaço para outras empresas. A Samsung, por exemplo, além de patrocinar o surfista Gabriel Medina, tem seu nome estampado nas etapas do Circuito Mundial de Surfe desde o ano passado.
“ Estamos sempre em busca de novas parcerias e este foi o caso do surfe, no qual encontramos uma grande oportunidade de associar nossa marca ao esporte, que vem ganhando cada dia mais fãs não só no Brasil, como no mundo todo. Existe uma grande sinergia entre a modalidade e os atletas com os produtos e valores da Samsung”, diz o gerente de marketing esportivo da Samsung Brasil, Cristiano Benassi.
Fonte: Brasil Econômico