06 jan 2015

CDL Florianópolis com foco no pequeno lojista

Marco dos Santos assume a CDL/Florianópolis e quer maior fiscalização do comércio irregular. Foto: Marcelo Passamai

Marco dos Santos assume a CDL/Florianópolis e quer maior fiscalização do comércio irregular. Foto: Marcelo Passamai

Por Marcelo Passamai

O comércio de uma cidade como Florianópolis, não só por ser Capital do Estado, mas pelas suas características históricas, políticas e de infraestrutura, tem peculiaridades que vão desde pequenas lojas, antigas ou novas, até grandes redes de varejo e empreendimentos como shoppings centers. Controlar, ajudar e promover esse comércio é a real função da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL/Florianópolis). Desta forma, o Portal EconomiaSC conversou com o novo presidente da entidade para este ano de 2015 (podendo se estender por mais um ano), o empresário Marco dos Santos.

Aos 45 anos, proprietário de três lojas da Ótica Montreal, ele assume a primeira e maior Câmara Lojista do Estado. Graduado em Ciências Contábeis e Optometria, está na diretoria da entidade há oito anos, dos quais seis respondendo pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC). Vai dirigir uma entidade com 4.500 associados e 120 mil consultas/mês ao SPC SC. “Meu foco será o pequeno lojista, é o setor que mais depende de nosso apoio”, adianta Santos.

Portal EconomiaSC – Marco, você poderia nos contar um pouco a sua história? Como você se tornou um lojista e como foi que você se associou a CDL de Florianópolis?

Marco dos Santos – Uma história que começa em 1970, eu era recém nascido, meu pai era funcionário de uma ótica e com a ajuda do meu avô, resolveu empreender. Ele montou a primeira loja da Ótica Montreal e eu, já com 14 a 15 anos, saia da escola e ia direto para a loja ajudá-lo. Comecei fazendo serviços de “office-boy”, depois comecei a me interessar pela parte técnica. Com 16 anos eu já trabalhava em período integral dentro da loja e estudava a noite. Aos 18 anos eu assumi toda a parte técnica e criamos um laboratório próprio que funciona até hoje. O tempo foi passando e em 1993 o meu pai reformou a sua loja e transferiu o nosso laboratório onde hoje é a nossa loja matriz. Desta forma, a partir daí, com o mobiliário antigo que sobraram da reforma da loja eu montei a minha primeira loja, mas que fazia parte do grupo Montreal.

Portal EconomiaSC – O comércio varejista do setor ótico também tem sido forçado a se adaptar com a chegada de redes de óticas e com as falsificações?

Marco dos Santos – Há muito tempo a gente já tinha percebido a tendência de grandes redes de varejo de se instalarem em Florianópolis. Além disso, muitos dos próprios fabricantes estão avançando para o varejo. Isso já é comum na Europa e nos Estados Unidos. O nosso mercado ótico está sempre numa contínua evolução. Mas eu diria que o nosso principal concorrente hoje é a sonegação e a pirataria. Para se ter uma ideia, cerca de 70% dos óculos comercializados hoje no nosso país são de procedência duvidosa, frutos de falsificação ou de sonegação. O Governo perde, a sociedade perde, financeiramente e principalmente com os problemas de saúde que essas falsificações, de má qualidade, podem gerar.

Portal EconomiaSC – Mas voltando um pouco mais para a sua história. A partir dessa primeira loja você já teve contato com a CDL?

Marco dos Santos – Em 2004 eu já havia montado a minha segunda loja. Mas desde que eu montei a minha primeira loja, um ano antes, eu comecei a participar da CDL junto com o meu pai. Foi onde eu comecei a perceber que para o pequeno lojista é super importante ter um porto seguro. Na época, essa troca de informações era muito restrita e com o movimento lojista foi possível ter um relacionamento de vários empresários, de vários setores, mas todos unidos pelo varejo. Esse “network” possível dentro da CDL é essencial para a evolução desses negócios diversos. Em 2007 eu fui convidado para participar da chapa da Diretoria. Comecei como relações públicas de eventos e por surpresa, eu fui o único diretor que ganhou o prêmio de destaque da própria diretoria. Conseguimos na época, fazer um trabalho diferenciado. Depois eu assumi a diretoria de SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), que é a mola propulsora da entidade.

Portal EconomiaSC – Como é a participação da DCL de Florianópolis na organização do Serviço de Proteção ao Crédito?

Marco dos Santos – A CDL de Florianópolis faz parte do SPC de Santa Catarina, que têm no total dez conselheiros e também tem participação nas reuniões do SPC Brasil. O que pouca gente leva em conta é o SPC hoje é um dos maiores bancos de dados da América Latina. É o banco de dados que tem mais capilaridade que pode ser inserido e utilizado em quase todos os segmentos, fora que pode ser utilizado em todas as regiões do país. Esse banco de dados é do próprio empresário, que ajuda a fomentar esses cadastros. O lojista é o dono desse banco de dados. O problema é que quando se fala em SPC se fala da parte punitiva ao inadimplente, mas isso é só uma parcela muito pequena diante do seu verdadeiro potencial. Na realidade, o foco principal desse banco de dados do SPC é conceber crédito. É de uma maneira mais clara, emprestar dinheiro para o consumidor final para realizar as suas compras. Hoje a gente percebe que o pequeno lojista arrisca o seu capital, muitas vezes um capital que ele não tem, como fluxo financeiro dele mesmo, em duplicatas a pagar, para fomentar o mercado e acabam vendendo em parcelas, graças ao respaldo que o SPC tem e lhes oferece. É uma segurança para o lojista. Desta forma, a venda a prazo acaba ajudando a alavancar o seu negócio, mesmo com juros baixos. Outras formas de pagamentos também ajudam. Percebemos que os cheques estão diminuindo cada vez mais. Aumentou e muito a utilização dos cartões de crédito e débito. Mas, a meu ver, ainda precisamos regulamentar a utilização dos cartões para a realidade do nosso país. Na Europa e nos Estados Unidos a modalidade de débito é inexistente. Existe o crédito, onde o consumidor paga, a empresa recebe dois dias depois , sendo pago uma taxa simbólica pela operação. Aqui no Brasil, os lojistas pagam 3 a 4% de taxa e só recebem depois de um mês da operação realizada. Existe um verdadeiro monopólio dessas operadas de cartões e que precisa ser modificado.

Portal EconomiaSC – Mas mesmo prestando esse serviço, tendo o SPC como carro chefe, a CDL de Florianópolis teve dificuldades para aglutinar os seu lojistas e se estruturar mais rapidamente diante do crescimento que se percebeu na cidade nas últimas décadas?

Marco dos Santos – Conforme esse banco de dados foi crescendo, os lojistas que não estavam associados a CDL percebiam que não poderiam continuar sem acesso àquelas informações sobre os seus consumidores. Muitas vezes um lojista acabava vendendo para um consumidor que já tinha histórico de inadimplente com um outro empresário, mas que não ficava sabendo. Pagava imposto da mercadoria, pagava comissão para o vendedor, perdia a mercadoria e ficava com uma dívida, maior ainda para ser paga. Então, isso foi fomentando de tal maneira que hoje eu não consigo visualizar uma empresa que, mesmo que não seja varejista, consiga trabalhar sem essa ferramenta, que é o SPC. Isso mostra o quanto Florianópolis mudou. O que antes se fazia com a conta a pagar, anotada num caderninho, numa época em que se conheciam as pessoas, foi acabando. Faz parte da evolução.

Portal EconomiaSC – Marco, falando dessa passagem de tempo, como você, que é um empresário de 45 anos, viu essa passagem de uma antiga geração de empresários, alguns ainda na ativa, para a sua geração?

Marco dos Santos – Foi uma evolução natural. Temos o prazer de termos aqui na CDL o convívio da “velha guarda” com novos empresários, com uma troca plena de experiências. Esses empresários mais antigos começaram com uma pequena loja, foram expandindo, e hoje são um exemplo da realidade do movimento lojista atual. E agora, na direção da CDL de Florianópolis pretendo dar espaço ainda mais para o jovem empresário possa mostrar o seu trabalho. Acho que a experiência deixada pelas grandes empresas e com as novas ideias, teremos uma garantia de futuro para o nosso micro e pequeno empresário, principalmente. E com isso, temos a certeza ainda maior de que a CDL não é de “A” ou de “B”, ela é de todos os associados. Eles são os que decidem o rumo da entidade.

Portal EconomiaSC – E aconteceu nesse tempo a profissionalização também do corpo de colaboradores da CDL de Florianópolis?

Marco dos Santos – Sim, claro! A CDL tem oito diretorias, mais os núcleos de trabalho, que dão uma sustentabilidade muito grande para as ações da entidade. Mas ainda falando dessa mistura do antigo com o novo, a nossa diretoria é composta por três diretores que vieram da CDL Jovem e com quatro ex-presidentes, que misturam experiência e com a força jovem de empreender.

Para Marco dos Santos, os Shoppings são uma ferramenta turística de grande relevância principalmente para Florianópolis. Foto: Marcelo Passamai

Portal EconomiaSC – Florianópolis tem sofrido muito com a vinda dos chamados “empresários de temporada”. Como a sua diretoria pretende lhe dar com isso?

Marco dos Santos – Eu acredito que o básico disso é que todos saibam que os direitos e deveres são iguais e devem ser iguais para todos. Vou dar um exemplo! Essas feiras itinerantes que chegam aqui na região da Grande Florianópolis, eu sou a favor que aconteçam, mas desde que eles cumpram com as mesmas regras com que todos os empresários já sediados aqui cumprem. Isso não pode continuar acontecendo. Chega uma feira, que é montada sem os alvarás necessários, sem recolhimento de impostos, sem nota fiscal, depois viram as costas, vão embora, e isso só prejudica o consumidor e o empresário local. É muito fácil fiscalizar aquele que está formal. A gente percebe hoje que muitos órgãos municipais e estaduais fiscalizam as empresas porque existe uma demanda no número de renovação de alvará. Desta forma, a gente pede para a fiscalização vir às nossas lojas. Mas ao mesmo tempo, se o empresário não pedir, talvez passe um a dois anos sem a visita de um fiscal, a não ser que haja denúncia. A gente esbarra com essas situações, que a CDL tem combatido, tem lutado contra. No nosso próprio Centro de Florianópolis, temos estrangeiros vendendo artigos de contrabando na calçada, estão ali já há dois ou três anos e na prática não acontece nada.

Portal EconomiaSC – Mas o que falta para que essa fiscalização aconteça? Falta uma ação mais efetiva dos governos municipal e estadual?

Marco dos Santos – A gente percebe a falta de efetivo na fiscalização, isso é uma coisa clara. Mas dentro destes órgãos também temos gente de excelente qualificação e muita competência. Por outro lado, eu percebo que falta muita vontade política. Ninguém quer se expor! Nós temos que parar para pensar o que nós queremos para a Capital do nosso Estado. Nossa cidade e nosso Estado estão batendo recorde de arrecadação a cada ano. Mas ao mesmo tempo aceita situações como essa que falei anteriormente, que são predatórias para o nosso Estado e para Florianópolis. O que não dá é para continuarmos convivendo com o camelô livre no Centro da cidade enquanto o lojista que deseja colar um adesivo de promoção na sua vitrine seja multado. Isso é uma incoerência. Não podemos deixar os dois competirem de forma desleal.

Portal EconomiaSC – O Centro de Florianópolis atualmente está dividido comercialmente entre o comércio que ficou mais próximo do Terminal de Integração do Centro – Ticen, entre as ruas Conselheiro Mafra e Filipe Schmidt, além da revitalização da Vidal Ramos, em contraponto ao chamado Centro antigo, entre as ruas João Pinto e Tiradentes, que sofreu um grande declínio de movimento. O que você pensa sobre isso?

Marco dos Santos – Nós temos um núcleo específico que está trabalhando esse assunto que é o chamado “Núcleo do Centro Histórico”. É com certeza um projeto de formiguinha, devagar. Para conseguirmos resgatar o movimento do público para aquela parte da cidade temos que ter muito investimento. Temos que ter atrativos para que as pessoas voltem a freqüentar mais aquela região. O Projeto Viva Cidade, que é realizado aos sábados naquela área, já é uma semente. Esse ano de 2015 esse projeto vai ganhar um aporte financeiro significativo para que possamos ter mais atividades e melhorar as infraestrutura, principalmente para fomentar a área cultural e gastronômica. Mas se os órgãos públicos também não se envolverem vai ser muito difícil.

Portal EconomiaSC – O aumento do número de Shoppings Centers na Grande Florianópolis é um problema? Tem demanda?

Marco dos Santos – Eu vejo os Shoppings hoje como uma ferramenta turística de grande relevância principalmente para Florianópolis, que é uma ilha e que está de costas para o mar. A gente sabe que é possível se preservar e é possível gerar emprego. As regras podem ser impostas, mas sempre vai ter um investidor que queira realizar um trabalho na nossa cidade. Só colocar as regras e fiscalizar. Não temos que fazer uma cidade para o turista, temos que fazer uma cidade para a população. O turista é uma consequência dessa qualidade de vida que se busca. O que nós não podemos em Florianópolis é continuarmos sem termos um transporte náutico, uma cidade de costas para o mar. O turista vai vir para conhecer o “modus operandi” da cidade. Se tivermos uma cidade de qualidade para a população, com emprego, renda e preservação, o turista virá, sem esforço. Mas primeiro temos que fazer a cidade para o cidadão. Os Shoppings hoje salvam a cidade principalmente em dias de chuva.

Portal EconomiaSC – Sobre o regionalismo do comércio, principalmente nos bairros, onde você acha que Florianópolis tem mais problemas em relação a valorização do comércio formal?

Marco dos Santos – Eu acho que não tem como voltar atrás! O fortalecimento dos bairros é uma realidade! E é algo que nós temos que valorizar! Aos poucos cada bairro, cada região vai descobrindo a sua identidade. Os núcleos da CDL estão trabalhando muito nisso. Para que cada bairro identifique suas necessidades e possa se organizar da melhor forma possível. E isso está acontecendo na região. Tem certas atividades, por exemplo, as madeireiras. Hoje é mais fácil encontrar o comércio dessa atividade em outras cidades da região do que em Florianópolis.

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Via: economiasc.com.br