
Por Luiz Henrique Belloni Faria*
O Brasil prioriza a exportação de commodities em detrimento das exportações de bens de maior valor agregado, fato extremamente preocupante, pois o atual modelo econômico está nos empurrando para uma “primarização” da economia em relação a outras mundiais. Está se tentando mudar esse foco, mas há muito tempo esse processo foi semeado e ganhou uma robustez tamanha que as dificuldades às mudanças são enormes.
Veja que curioso: desde o século 19 o Brasil é o maior produtor mundial e exportador de grãos de café, mas o maior exportador de café industrializado é a Alemanha, que não possui um pé de café. Cerca de 80% da soja produzida no país é destinada ao mercado externo, enquanto as exportações de derivados de soja, que possuem maior valor agregado, caem ano a ano. O minério de ferro, que é o insumo utilizado para produzir aço, é um dos principais itens da nossa pauta de exportações. Por outro lado, a balança comercial dos setores que possuem o aço como principal matéria-prima (automóveis, máquinas, equipamentos etc.) é totalmente deficitária. No caso específico do setor de máquinas e equipamentos, o déficit acumulado nos últimos dez anos é superior a US$ 60 bilhões.
Somente os que não desejam enxergar não percebem que o Brasil não é competitivo. A falta de incentivo aos investimentos, o câmbio atual, a taxa de juros mais alta do mundo, o custo Brasil, a alta carga tributária e a ineficiência de infraestrutura, impõem à indústria brasileira de transformação uma perda de competitividade que reduz as indústrias que produzem bens de alto valor agregado. Essas é que são responsáveis por gerar milhões de empregos qualificados, portanto, pagam melhores salários.
Uma nova política macroeconômica faz-se necessária, mesmo sabendo que os resultados dela advêm a médio e longo prazo. Existe exemplo melhor que a China?
Somos um país com dimensões continentais e populoso. Essa mina de diamante não é vista como potencial econômico, muito pelo contrário, muitas vezes como um problema, por muitos administradores, principalmente públicos. Faz-se necessário pensar e agir de forma grandiosa para que o Brasil venha a ser realístico, sem heresias, mais justo, gerador e distribuidor de riquezas, um país que educa e que cuida da saúde do seu povo.
Digo frequentemente e não canso de repetir que não existe país desenvolvido sem uma indústria de transformação forte. Recentemente no Brasil começamos a ouvir com mais frequência uma frase que foi parte de um pronunciamento feito no parlamento britânico em 1721: “nada contribui mais para promover o bem-estar público do que a exportação de bens manufaturados e a importação de matéria-prima estrangeira”. Isso mostra que o Brasil andou na contramão dos países ricos e desenvolvidos, ou seja, aquilo que eles fizeram e continuam fazendo há mais de dois séculos.
Não sou contra a produção e exportação de commodities, mas estou convicto que somente isso não é suficiente para gerar o superávit necessário na balança de pagamentos e quantidade de empregos que o país necessita.
É possível fazermos as duas coisas (commodities e indústria), mas são prementes medidas emergenciais, pois, caso contrário, corre-se o risco de não se oportunizar ao Brasil à condição de se constituir em uma nação desenvolvida.
*Luiz Henrique Belloni Faria é presidente da Ordem dos Economistas de Santa Catarina (OESC)
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Via: economiasc.com.br