
Otaviano Canuto já foi ex-vice-presidente do Banco Mundial. Foto: Alana Pastorini
Por Alana Pastorini
O Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), popularmente conhecido como o Banco do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), deve ser estruturado a partir de 2015. Segundo o consultor do Banco Mundial, Otaviano Canuto, que esteve esta semana em Florianópolis, o objetivo da instituição é financiar a infraestrutura. Ele pontua que para haver crescimento entre os cincos países, é preciso que os membros enxerguem as oportunidades de colaboração.
Canuto, que já foi ex-vice-presidente do Banco Mundial, falou com exclusividade ao Portal EconomiaSC sobre as expectativas do NBD. A criação do banco foi anunciada em julho passado, durante reunião de cúpula dos países membros em Brasília.
O consultor participou de um seminário na Fiesc (Federação das Indústrias de Santa Catarina), na segunda-feira, dia 22. Em 2013, as exportações de Santa Catarina para a África do Sul, Índia, China e Rússia totalizaram aproximadamente US$ 1,2 bilhão, correspondendo a 14% das exportações totais do Estado no período.
Quando o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) efetivamente sairá do papel?
Eu creio que a partir do ano que vem. Li em comunicados que se começa a dar os pequenos contornos. Pois é um processo que vai exigir definição de estrutura administrativa e normas de procedimento. Além da contratação de quadros. Também deve haver processos específicos de aprovação aos países. Por isso, vai necessitar algum tempo até que a primeira operação de empréstimo ocorra.
O capital inicial do banco continua sendo de US$ 50 bilhões? Divididos entre os cinco países?
O capital será US$ 50 de bilhões divididos entre os países. O capital dos bancos, assim como é o caso do Banco Mundial e o caso dos outros bancos de desenvolvimento de existência, tem uma parcela da contribuição dos países, que é realizável imediatamente. Ou seja, dinheiro que fica disponível. Na verdade, dos US$ 50 bilhões, 20% é de capital realizável, isto significa que o que esses países precisam aportar imediatamente é na verdade US$ 10 bilhões, US$ 2 bilhões para cada um. Mas o banco não opera apenas com este dinheiro. Pois este valor é uma base para que o banco possa emitir papeis, levantar recursos. São esses recursos cujo levantamento é possível por meio deste capital subscrito, que o banco tem à disposição para emprestar.
Onde deverá ser a sede do banco?
A sede será na China, conforme anúncio. O presidente será indiano e o diretor do conselho de administração, um brasileiro.
Qual é a importância da criação deste banco?
Há dois pontos para se destacar: o simbólico, porque partes dos resultados concretos que o agrupamento regular dos chefes de Estado desses países vai mostrando, dando existência a coisas concretas.
E segundo e mais importante é que ele é mais um canal, um instrumento para redução das necessidades e carências extraordinárias de financiamento de longo prazo que hoje existem na economia internacional, especialmente para economias em desenvolvimento. Eu realçaria, por exemplo, que outros bancos de desenvolvimento de natureza conjunta de países também tem acontecido nos últimos anos. A Cooperação Andina de Fomento que hoje se chama Banco de Desenvolvimento da América Latina e que cresceu muito com a incorporação de Brasil e Argentina, é também um desdobramento relevante.
Há um aumento de capital dos bancos de desenvolvimento regionais, como o BID e o Banco de Desenvolvimento Asiático. Os chineses também falam em criar um Banco da Ásia para infraestrutura. Então está em curso uma proliferação de instituições como estas e que tem um potencial enorme de colaborar entre si. Até porque elas vão ter conhecimento e capacidade em áreas diferentes. Então pode ser muito útil para elas colaborarem para ter uma sinergia que beneficie todo mundo. É o que se espera.
Qual é o poder de consumo dos cincos países?
O poder de consumo dos países do Brics é significativo potencialmente. E certamente, no caso da China, existe uma transição no modelo do crescimento em direção a um novo padrão chinês, o consumo doméstico, que terá papel muito mais importante do que teve até aqui. O êxito da China na transição desse novo modelo vai significar a criação de mercados consumidores, não apenas de produtos manufaturados ou agrícolas e minerais, mas também de serviços. A China vai ser uma economia em que o setor de serviços vai crescer em importância e vai importar serviços.
Atualmente como está o envolvimento entre os países membros do Brics? O que falta para o Brics crescer mais?
A julgar pela última reunião está havendo resultados concretos. Eles enxergaram as oportunidades de colaboração.
Qual é o peso econômico do Brics no mundo?
Eu mudaria a pergunta para: Se o Brics é uma espécie de contraponto ao poder dos países do G7? Não, ainda não. Mas do lado do Brics é onde a longo prazo, eu encontraria maior potencial de crescimento em relação aos dias de hoje. O mundo, independentemente da velocidade que gira, é um mundo que se movimenta para a maior parte do PIB mundial ser gerado, em um futuro não muito distante, em sua parte menos desenvolvida.
O senhor acredita que a criação do Banco do Brics vai promover, de alguma forma, o crescimento do PIB brasileiro?
Não creio que tenha magnitude para isto. Pode sim, mas no futuro.
A presença da China, como maior potência no grupo, e portanto, com maior poder, poderá provocar um desequilíbrio de forças?
Acho que o desenho da estrutura de capital com iguais partes para cada um, dá um sinal, pelo menos do que diz respeito ao comando do banco, que será o mais cooperativo possível. A julgar pela composição do capital.
Qual é o PIB dos países membros do Brics?
Segundo dados de 2013, o PIB da China é de US$ 9,3 trilhões; o do Brasil é de US$2,3 trilhões; da Rússia, US$2,1 trilhões; Índia, US$ 1,8 trilhão; e África do Sul, US$ 384,3 bilhões.
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Via: economiasc.com.br

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